Marizá Epicentro é um lugar belo no Sertão baiano onde você aprofunda seu contato com a Natureza de uma forma regenerativa, ajudando implantar uma agrofloresta que um dia será um "Jardim de Éden no Sertão".

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Novidades Agrícolas, Marizá 2009

Os primeiros campos

A nossa primeira estratégia nestas areias pobres foi de utilizar as plantas adaptadas que são reconhecidas como “criadoras de solo” :

Ø As Cactáceas ( Palma forrageira)
Ø As Bromélias (Babosa)
Ø As Euforbiáceas ( Fuxico (Aveloz), mandioca, pinhão nativo)
Ø As agaváceas (Sisal)
Ø Árvores (Caju, leucena, gliricídia, as únicas que sobreviveram)

Em solos com um bom conteúdo de minerais ( em Irecê, por exemplo), ou uma grande velocidade de decomposição da matéria orgânica ( na região da mata, por exemplo), esta estratégia seria o suficiente para criar um solo rico.

Isto não foi o nosso caso. Enquanto não acrescentava os adubos minerais ( calcário, pó de rocha, farinha de osso, barro) o desenvolvimento foi muito lento. Nos primeiros anos, mesmo estas plantas resistentes morreram!

Em 2008 adubamos estas primeiras áreas com minerais ( calcária, pó de rocha de Ipriá, farinha de osso caseiro, barro) e neste ano de 2009 fizemos plantio de feijão de corda (detalhes a seguir ). A produção está sendo fabulosa, os pés enormes e saudáveis, com folhas imensas. Esta plantação resistiu ao ataque de largatas (filhos de borboletas) que destruiu vários campos de feijão na região.


{Fotos desta área antes e depois da chegada das chuvas}






Mas tem um problema anímico com este modelo de implantação: não resta espaço para o homem! Uma plantação quadriculada cheia de plantas com espinhos e leite que queima não convida você a entrar, sentar, contemplar.

Assim este ano começamos a trabalhar com uma outra estratégia:

Jardins Agroflorestais

Dividimos pequenas áreas ( de 300-400 metros quadrados) com cercas de fuxico, cada constituindo um novo “jardim”. Cada área é única, com manejo diferente. Em um cercamos a área toda com galhos de cajueiro que pegamos no terreno do vizinho já que este material ia ser queimado, fornecendo assim quebra-ventos e suporte para trepadeiras.

Cavamos buracos de 40X40X40 nas bordas, enchendo estes com cama de galinheiro, cascas de castanha de caju carbonizadas, folhas de caju, e os minerais
( calcário, pó de rocha de Ipirá, farinha de osso caseiro, barro).

Plantamos tipos de abóbora diversos nestes buracos, com milho na borda de cada.

Com o ataque das largatas ( não lembrei a tempo de aplicar cinzas a tempo – em uma noite estas largatas podem destruir uma planta), ficaram somente as plantas mais resistentes, que se mostraram ser as plantas mais adubadas ( e que fornecerão as sementes para o plantio do ano que vem!). Assim as lagartas estão sinalizando fraquezas ainda do solo. Tenho certeza que o ano que vem, depois do tempo destes adubos lentos serem melhor incorporados no solo, a resposta vai ser mais positiva.

Mesmo assim, pelo que restou ou regenerou, parece que vamos ter abóbora suficiente para o ano. As abóboras podem ser guardadas até cinco meses.
É interessante apontar que os vizinhos dizem que aquelas culturas que sobrevivem o ataque de lagartas produzem melhor do que antes! Estamos observando as abóboras que estão regenerando- se as chuvas forem demoradas ( chegando até setembro) ainda há esperanças que produzem.

No centro deste primeiro jardim, que tem declive e conta com uma das manchas piores de solo da propriedade, fizemos três canteiros em meia-lua { fotografias março- maio deste canteiro} adubados com cama de galinheiro, os adubos minerais e folhas secas. Nestes canteiros foi semeada uma policultura de hortaliças, sorgo e amaranto gigante, uma nova cultura muito interessante. Os resultados foram um desapontamento- germinação perto de zero! Fizemos uma segunda adubação e apareceram alguns amarantos e alguns pés de melancia e abóbora que estão produzindo bem.

Vamos continuar a concentrar adubos orgânicos nestes canteiros que devem dar uma boa produção até o ano que vem.

(Neste terreno, o milho não passou de 30 cm o ano passado!

O local é lindo: colocamos uma fileira de pedras grandes no pé de cada canteiro para impedir a perda de água por causa do declive. Estes pedras fornecem um ótimo lugar para sentar e contemplar a paisagem...

Em cada buraco para a abóbora estão nascendo árvores que vieram como semente na cama de galinheiro: leucena, algaroba, pinha, cajá. Muitos vão ficar. Assim este jardim vai ser rodeado por árvores no futuro próximo, se sobreviverem o verão. Não pretendo irrigar este jardim, contando somente na capacidade dos adubos orgânicos de absorver as chuvas.

Há outros jardins:
Ø um perto da cozinha que recebe água da pia, que servirá para irrigar algumas árvores mais “nobres”, especialmente cítricos e pinhas, que não sobrevivem aqui sem irrigação;
Ø um que foi esculpido para toda a água da área ir para alimentar um pé de umbu no seu centro. A terra escavada foi jogada em cima de muitos galhos, formando uma borda que serve de quebra-vento e suporte para batata-doce;
Ø um com muitas flores e canteiros, perto do imenso cajueiro, se beneficiando do adubo e sombra deste velho gigante;
Ø um na área plana de baixo, onde a terra é um pouquinho melhor, que foi também rodeado por buracos para abóbora, o restante plantado com um feijão (caxangá), presente de um visitante de Jacobina. Como o feijão não criou volume, plantamos feijão de corda nos intervalos. Parece que esta estratégia vai dar certo, o feijão de corda ficando para cobrir o solo, depois que o primeiro feijão- de ciclo curto – sair do sistema.
Ø Uma área nova que foi capinada onde os matos indicavam um solo um pouco melhor, onde foi plantada uma policultura visando o gergelim como cultura principal. Foi um fracasso – sobreviveram poucos pés desta policultura. A área foi plantada em sisal ( mudas pequenas) e vai ser adubada com matéria orgânica e minerais para pegar as próximas chuvas em melhores condições.

Percebemos que o salto em produção sempre vem no ano seguinte, assim acredito que todos estes jardins vão ser bem produtivos o ano que vem. Ainda temos os cinco meses de verão para continuar adubando com matéria orgânica e outros adubos da região.

Como esta terra pobre e arenosa não favorece feijão de arranque ( carioquinha etc.) vamos concentrar esta cultura exigente nestes jardins mais adubados e concentrar nossos esforços no feijão de corda, que já produz bem aqui. O feijão de corda vem da África e tem a capacidade de mobilizar melhor os poucos minerais do solo, sendo uma cultura recuperadora, especialmente em policulturas.

Plantando no meio do mato

A nossa meta é que a terra ficque melhor cada ano que passa, impossível com as estratégias locais de plantio ( arado, capina etc.). Este anos estamos experimentando com um jeito ousado de plantar ( e que os vizinhos acham absurdo!): os matos são roçados ( cortados rente ao chão), e faixas de 30 cm são capinadas neste material, tomando cuidado de cortar bem as raízes dos matos nestas fixas para deixar espaço para as raízes das culturas.

Estas faixas são adubadas com cama de galinheiro, os pós minerais ( rocha, calcária, farinha de osso, barro, cascas carbonizadas de caju) que são incorporadas superficialmente ao solo.

Neste material planta-se feijão de corda, milho ( ou sorgo), girassol e guandu, num espaçamento de 40 cm. Sabemos que vão aparecer outras culturas na cama de galinheiro: maxixe, tomate, pimenta, pimentão, leucena, etc. completando estas policulturas. Se o mato começar a dominar as policulturas, as bordas das faixas serão capinadas uma vez, até as culturas sombrearam os matos. Isto foi a estratégia usada no plantio do campo de feijão de corda, e funcionou muito bem.

Mas percebemos que estas estratégias só funcionam em terras mais adubadas, que favorecem as culturas ( que são mais exigentes do que os matos locais). Têm duas vantagens nestas estratégias:
Ø fica uma grande massa orgânica no solo, tanto da vegetação cortada, quanto o tapete de raízes que ficou por baixo da terra, que normalmente seria exposta pela aração. Esta massa aduba a terra sem portanto esgotar o teor em matéria orgânica, o que acontece com a aração;
Ø Gasta-se menos da metade de adubos, já que só se aduba nas faixas e não o campo todo. Depois as próprias policulturas vão melhorar a fertilidade do solo.

Estamos fazendo vários campos com esta estratégia, para aproveitar as últimas chuvas, implantando feijão de corda e depois melancia e maxixe, todas culturas que estendem e abafam os matos. Mas vamos experimentar num campo maior o ano que vem, para ver se é possível de implantar campos de milho e feijão desta forma. A chave é se as culturas conseguem dominar e sombrear os matos. Acho que estamos aproximando uma nova maneira de plantar – ou não!!!.. Só o tempo mostrará....

Um comentário:

CAUÊ PINA disse...

GOSTEI DAS FOTOS!
A EXPLICAÇÃO ESTÁ CLARISSIMA!
QUERO JÁ VOLTAR NO EPICENTRO...